Evento de encerramento do rePLANT destaca as principais conquistas do projeto e debate formas de impulsionar o futuro da floresta.
Evento de encerramento do rePLANT destaca as principais conquistas do projeto e debate formas de impulsionar o futuro da floresta.
Após três anos a inovar para uma maior valorização e competitividade da floresta portuguesa, o rePLANT terminou. Os resultados deste projeto colaborativo liderado pela The Navigator Company e o CoLAB ForestWISE, que juntou 20 entidades, entre empresas, universidades e outras entidades de investigação e inovação, foram divulgados no evento “Floresta Digital: Entre no próximo nível”, realizado em Lisboa, no dia 1 de junho.
“O rePLANT rasgou terreno, fez pontes, mobilizou”, disse Carlos Fonseca, Chief Technology Officer do ForestWISE. Por seu lado, José Luís Carvalho, responsável de Inovação e Desenvolvimento Florestal da The Navigator Company, comentou que “inovar na floresta é garantir a sustentabilidade, encontrando soluções aplicáveis no negócio”, relembrando a importância deste setor que gera 100.000 empregos, ocupa 19.000 empresas e tem um valor estimado em serviços de ecossistema na ordem dos 580 milhões de euros.
Floresta, um espaço de tecnologia
Estruturado em três grandes pilares – Gestão da Floresta e do Fogo, Gestão do Risco, e Economia Circular e Cadeias de Valor – o rePLANT conduziu ao desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços, em grande parte suportados em tecnologias digitais, que contribuem para a redução do risco de incêndio.
Alexandra Marques, coordenadora executiva do ForestWISE, apresentou alguns dos trabalhos. “Obtivemos resultados concretos, que respondem às necessidades do setor”, disse.
No caso da Gestão da Floresta e do Fogo foram plantadas novas espécies de pinheiro mais adequadas às condições naturais do País; foram implementadas novas práticas de silvicultura para obter florestas mais resilientes; houve progresso nas tecnologias de deteção remota, acima de tudo nas aplicações que elas podem ter para a floresta, como, por exemplo, na estimativa da biomassa; e foi desenvolvida uma aplicação móvel para realização mais expedita do inventário florestal.
Na área da Gestão do Risco, foram colocados sistema de vigilância em torres de alta tensão, nomeadamente câmaras óticas e térmicas, que permitem monitorizar, proteger e antecipar o impacto dos incêndios rurais na floresta.
No pilar da Economia Circular e Cadeias de Valor, Alexandra Marques referiu o desenvolvimento de uma nova alfaia de preparação de terreno com sensores LiDAR incorporados, e um novo dispositivo que é acoplado aos equipamentos e permite recolher, de forma automática, informação que pode ser acompanhada à distância, em tempo real.
O esforço colaborativo do rePLANT terá continuidade no projeto TransForm, que tem a coordenação técnico-científica do ForestWISE e a participação da Navigator.
A coordenadora executiva do ForestWISE lembrou que os “ciclos de inovação são lentos” e que é necessário continuar a desenvolver o trabalho iniciado. “Os passos seguintes são continuar a acompanhar a inovação que está a acontecer lá fora – ao nível da teleoperação, dos motores elétricos, híbridos e a hidrogénio, a realidade aumentada, a robotização e o transporte autónomo – e trazê-las para Portugal, adaptando-as à nossa realidade”, afirmou.
Foi sobre tecnologias que estão a ser desenvolvidas noutras áreas de atividade, mas com aplicação “em ambientes duros”, como é o caso da floresta, que o presidente do Conselho de Administração do INESC Tec (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência), falou na sua intervenção. José Manuel Mendonça defendeu que os cientistas têm de resolver os desafios que as pessoas sentem no terreno e, por isso, é tão importante este tipo de projeto colaborativo de criar conhecimento, que redunda “na capacidade de aconselhar políticas públicas”.
Uma colaboração para continuar
O evento “Floresta Digital: Entre no próximo nível” promoveu ainda uma mesa-redonda subordina ao tema “Impulsionar o futuro da floresta”, com a presença de António Redondo, CEO da The Navigator Company, José Ferrari Careto, CEO da E-REDES, José Soares de Pina, CEO da Altri, e João Faria Conceição, Administrador Executivo da REN. Num debate moderado pelo jornalista Paulo Ferreira, da Rádio Observador, e tendo como ponto de partida os resultados do rePLANT, os intervenientes falaram sobre inovação e tecnologia na floresta na era da transformação digital, a relação entre empresas e universidades, o futuro da floresta e o seu contributo para a bioeconomia.
A capacidade mobilizadora do projeto foi um dos aspetos destacados, salientando-se que o esforço colaborativo do rePLANT terá continuidade na Agenda Mobilizadora TransForm, apresentada no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, com vista à transformação digital das cadeias de valor florestais. Tem coordenação técnico-científica do ForestWISE e a participação da Navigator.
António Redondo, CEO da The Navigator Company, evidenciou que o rePLANT teve a capacidade de “trazer a ciência, a tecnologia para o debate das florestas, que é polarizado em termos ideológicos”. Paralelamente, permitiu também “mostrar às gerações em formação que a floresta é um caminho de futuro e altamente tecnológico”.
O mesmo responsável sublinhou as potencialidades da floresta, não só pelo seu papel na descarbonização, mas também porque é fornecedora de matéria-prima para os mais variados fins, no âmbito da bioeconomia, com aplicação, por exemplo, na saúde e cosmética, nos biocombustíveis e nos bioplásticos. No entanto, António Redondo alertou para as limitações, em Portugal, ao crescimento e plantação de eucalipto (material de excelência para os bioprodutos), que tem como consequência “obrigar a indústria a importar madeira da América Latina e de África, na ordem dos 300 milhões de euros. Madeira que poderia ser produzida cá”.
João Faria Conceição, Administrador Executivo da REN, destacou a importância de gerir a floresta e reduzir incêndios, referindo que “dois terços das linhas elétricas estão em ambiente florestal”. Mencionou ainda o projeto de colocação de câmaras óticas nos postos de muito alta tensão, considerando que são “uma mais-valia” na monitorização de incêndios.
António Redondo, CEO da Navigator, alertou para as limitações ao crescimento e plantação de eucalipto em Portugal, que tem como consequência “obrigar a indústria a importar madeira na ordem dos 300 milhões de euros”.
José Soares de Pina, CEO da Altri, aludiu à necessidade de dar continuidade ao trabalho realizado no âmbito do rePLANT, porque “a tecnologia, por si só, não altera nada se não for escalada. O grande desafio agora será percebemos o que fazer com isto”. Referiu ainda acreditar que a tecnologia pode levar também a uma modernização do setor, atraindo mão-de-obra mais jovem.
A E-REDES, empresa que faz a distribuição da energia elétrica, foi também descrita pelo seu CEO, José Ferrari Careto, como “um agente na área florestal” – “Temos 180.000 quilómetros de alta tensão na floresta e mais de mil pessoas no terreno a gerir a vegetação, porque quanto mais eficiente é a gestão da floresta, menor é o impacto na tarifa faturada.”
O Secretário de Estado da Economia, Pedro Cilínio, encerrou a sessão, destacando a relevância da floresta como fornecedora de matéria-prima para várias indústrias e recordando que “este projeto teve o condão de trazer uma nova dinâmica, que tem vindo a ser intensiva em vários setores económicos, que é a colaboração entre as empresas, a investigação, trazer conhecimento acumulado”.
O rePLANT teve a duração de três anos e contou com um investimento de 5,6 milhões de euros, destinados a melhorar os processos de gestão e tomada de decisão das empresas florestais e energéticas, introduzindo um elevado grau de inovação na gestão integrada da floresta e do fogo.
In, Produtores Florestais, 9 Junho 2023